domingo, 9 de outubro de 2016

Moqueca de Frango no leite de côco com pirão de milho verde.

Moqueca de frango no leite de coco
Num outro post (Moqueca de Feijão verde com costelinha de porco), eu discorri um pouco sobre o termo "moqueca" e suas possíveis origens e significado, inclusive remetendo a um excelente artigo da Wikipedia sobre isso. Nestes dois textos, algumas curiosidades sobre a origem do termo "moqueca" e a diferença entre as moquecas baianas e capixaba.

Moqueca de Frango no leite de coco com pirão de milho verde.
Ingredientes para 10 pessoas.

Frango:
3 kg de frango (escolho geralmente sobrecoxa)
1 kg de cebola média
1 kg de tomate
2 cabeças de alho
1 pimentão vermelho
1 pimentão verde
1 pimentão amarelo
1 maço de coentro
1/2 maço de cebolinha
Azeite de dendê
Azeite de urucu
2 colheres de sopa de vinagre
Leite de côco - 500ml
Sal

Preparo do frango:
1) Num processador, triture  uma cebola e alguns dentes de alho (a gosto) com um pouco de azeite de oliva, duas colheres de vinagre e uma colher de sopa de sal.

Frango na assadeira
2) Numa tigela grande, misture o tempero triturado por todo o frango.

3) Disponha os pedaços de frango com pele numa assadeira e asse até ficar bem dourado. (Gosto de fazer este procedimento porque realça o sabor do frango, além de retirar o excesso de gordura que a sobrecoxa tem. Carnes muito magras como o peito de frango não têm muito sabor. Geralmente, faço este procedimento na véspera: ficar de um dia para o outro assado e temperado, também ajuda a realçar o sabor.) Quando for montar a moqueca, retire a pele e o excesso de gordura do frango.
Reserve.

Mix de vegetais na panela
de barro
4) Pique a seu gosto (prefiro em cubos pequenos) a cebola restante, o tomate, os pimentões, o coentro e a cebolinha. Faça uma mistura desses vegetais numa tigela. Reserve.

5) Numa panela de barro grande, monte a moqueca com o seguinte procedimento:
     a) Coloque um pouco de azeite de dendê no fundo e espalhe bem (pode usar um pincel culinário);
     b) Coloque sobre o fundo dois dentes de alho bem picados;
     c) Espalhe o mix de vegetais sobre o fundo da panela, montando uma "caminha" para o frango;
     d) Disponha os pedaços de frango sobre a cama do mix de vegetais;
Frango já coberto com a camada
de mix de vegetais
     e) Hora de salgar: salpique sobre o frango;
     f) Coloque mais alho picado espalhado sobre o frango;
     g) Por cima, jogue mais um pouco de azeite de dendê;
     h) Cubra tudo com o restante do mix de vegetais;
     i) Salpique mais sal;
     j) Regue com um pouco de azeite de urucu;
     k) Decore com rodelas de pimentão e cebola;
     j) Por último, regue com todo o leite de côco.



 Sirva quente, nos apoios de ferro que acompanham as panelas de barro, com arroz branco ou integral.









segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Moqueca de Feijão verde com costelinha de porco.


Um pouco de histórico do termo. 

Como capixaba, sou um cultuador da tradição culinária da minha terra, especialmente a paixão que temos por frutos do mar num dos mais tradicionais pratos que é patrimônio imaterial do Espírito Santo: a moqueca. Brincamos, sempre em tom jocoso e provocador, com nossos irmãos e vizinhos baianos dizendo que "moqueca é capixaba, o resto é peixada!" 

Sempre fui um apaixonado pelas origens e influências das tradições indígenas e africanas na/da culinária brasileira.

Com relação ao famoso prato, o termo moqueca é sempre associada a frutos do mar. E é comum causar surpresa quando se dá a ele outras conotações. Entretanto, ela é um estilo de prato que pode ser testado com várias outras formas de comida. A este respeito, é notável, por exemplo, que no Espírito Santo tenha se difundido uma moqueca de banana da terra, iguaria que nunca me lembro de ter provado quando era pequeno (é coisa recente nos restaurantes de Vitória, de uns 15, 20 anos pra cá). (Embora seja comum as pessoas colocarem a banana da terra para cozinhar na moqueca - procedimento muito encontrado na culinária caiçara, ou as várias formas de "caldeirada"  que existem Brasil afora.)

Vale uma curiosidade sobre a etimologia da palavra. Desde que comecei a ler os cronistas do XVI, aprendi que a palavra "moquear" quer dizer "assar". Dai veio a nossa moqueca. Moquem, carnes moqueadas, moquecas. Termos indígenas. A esse respeito, remeto a este lindo artigo da Wikipedia sobre a "Moqueca Capixaba" que contém dados históricos muito preciosos. Entre as muitas informações interessantes, destaco esta que fala sobre a principal razão da distinção entre as moquecas baiana e capixaba:

Em terras baianas, a influência africana foi vital na constituição dos hábitos alimentares, em função do grande número de escravos aí estabelecidos (basta lembrar que Salvador foi o maior porto de entrada de escravos no Brasil até o final do século XVIII). Por outro lado, a baixa densidade demográfica e o isolamento que caracterizou a ocupação do Espírito Santo até o início do século XIX teriam contribuído sobremaneira para que sua cozinha permanecesse muito mais ligada aos hábitos indígenas, incorporando, a estes, a influência portuguesa, como no uso do azeite doce ou de oliva e temperos em geral.

Em outra fonte, obtive uma informação que me foi totalmente nova a respeito do termo "moquém". Olhem só:

"O moquém ficou tão conhecido na época da colonização, seja entre os Portugueses (que tinham pavor do canibalismo indígena) como entre Ingleses e Franceses, que nomes em inglês como Bucanner (pirata), ou em francês, como Boucan (grelha de madeira), provém exatamente da palavra moquém."

"The term buccaneer derives from the Caribbean Arawak word buccan, a wooden frame for smoking meat, preferably manatee. From this derived the French word boucane and hence the name boucanier for French hunters who used such frames to smoke meat from feral cattle and pigs on Hispaniola (now Haiti and the Dominican Republic). English colonists anglicised the word boucanier to buccaneer."

A informação que seja de origem Arawak pode ser incerta (como várias fontes do século XVI atestam, por ser de origem Tupi), porque Hans Staden, entre outros, usam o termo. E esses cronistas falavam línguas do tronco Tupi, não Arawak. Entretanto, é também possível que seja uma forma (como existem tantos exemplos em muitas línguas mundo afora) de vocábulo que migrou de uma para outra língua.


Sobre esta receita. 

Há um tempo, vindo de Natal, trouxe um pacote de feijão verde. Sem saber o que fazer, me veio a imagem de um cassoulet, iguaria francesa que adoro. Resolvi então, experimentar uma invenção, batizada em respeito a todas as referências descritas acima e no artigo da Wiki: moqueca de feijão verde com costelinha de porco (e, claro, temperada com alguns outros ingredientes para ampliar seu sabor). Fiz acompanhada de farofa de castanha do Pará e banana. Funcionou muito bem.

Receita de Moqueca de Feijão Verde com Costelinha de Porco. 

Ingredientes (para 8 pessoas): 
2kg de feijão verde
2kg de Costelinha fresca
1kg de linguiça de lombo apimentada
200g de bacon fresco
100g de linguiça calabresa fina defumada
Cebola
Cravo da índia
Alho
Louro
Alho Poró
Coentro
Cebolinha


Preparo: 
1) Véspera. 
Deixe marinando a costelinha com alho amassado e sal por duas horas; 
Pique a linguíça e pedaços e frite-as, reservando a seguir. 
Frite (ou asse) a costelinha e reserve. 
Pique o bacon fresco e derreta a gordura numa panela. 
Nesta gordura do bacon, refogue um pouco de alho e uma cebola picada. 
Acrescente água e deixe levantar fervura. 
Ao ferver, jogue as folhas de louro (a gosto) e coloque a costela, a linguiça e a calabresa (pode estar crua). 
Craveje uma cebola com cravo da índia (quantidade a gosto) e coloque no caldo. 
Coloque o maço de alho poró em pedaços grandes (ele será retirado depois). 
Deixe cozinhar bem. 
Deixe esfriar. 
Coe este caldo, reservando-o numa vasilha. Leve à geladeira. As peças (costelinha, bacon, linguiça e calabresa), você reserva num outro recipiente também na geladeira. 

2) No dia: 
Ao retirar o caldo da geladeira, uma grossa camada de gordura (densa e dura) estará formada sobre ele. Retire-a com cuidado e despreze. Isso fará com que o prato perca muito do seu teor de gordura, sem perder o sabor. Fica bem mais leve.

Devolva o caldo para a panela para cozinhar o feijão. Cozinhe-o ao ponto que quiser (eu gosto mais al dente). 

Numa panela de barro de moqueca, monte uma sequência de camadas. 
Um filete de azeite; alho triturado; cebola triturada; coentro; cebolinha.
Coloque uma camada de feijão verde cozido; 
Disponha sobre esta cama de temperos e feijão uma camada de costelinha, linguiça, calabresa e bacon; 
Por cima das carnes, repita a camada de temperos e outra de feijão. 
Vá jogando, aos poucos, com uma concha, o caldo que sobrou da panela para levar ao fogo antes de servir. 
Você pode decorar com um pouco de cebolinha e coentro a superfície para apresentação. 
Deixe levantar fervura e, voilà. Bon apétit. 


domingo, 21 de junho de 2009

Receita de Caille au Sarcofage

Ao rever A festa de Babette vinte anos depois, escrevi um pequeno texto a respeito do que o filme me despertou agora ("Babette: uma ode aos sentidos"). Mais que antes, fiquei instigado a saber como, de fato, são as receitas do festim. Não tive tempo de pesquisar muito sobre isso. Certamente, Karen Blixen ou mesmo Gabriel Axel devem ter escolhido a dedo os pratos que compuseram aquele clássico banquete (quando tiver o resultado desta pesquisa, escrevo algo para deixar aqui). Confesso que ainda não li o romance que deu origem ao filme e não sei de quem foi a idéia dos pratos (se da romancista ou do cineasta).


Não obstante, na pesquisa incipiente e superficial que fiz, localizei a receita do principal prato ali servido, "Les cailles au sarcophage" ("codornas no sarcófago"). No filme, o prato é "au" e no blog onde achei a receita é "en". Uma sutileza preposicional que pode dar o que falar na semiótica do prato (e do filme).

A receita a seguir foi tirada do blog francês intitulado "Les pages de Nezumi". Transcrevo-a aqui em caso da página, por algum motivo, ser tirada:

O menu servido:
Soupe de tortue géante
Blinis Demidoff (blinis au caviar)- Esta receita tem no site também.
Cailles en Sarcophage avec Sauce Perigourdine
La Salade
Les fromages
Gâteau aux raisins et rhum avec des figues mûrs

Aqui, você encontra um excelente artigo sobre a gastronomia no cinema (focando na análise do filme).

La fameuse recette de Cailles en Sarcophage

tirée du film "Le Festin de Babette"

* Pour huit personnes *

Préparation: 1 h 30

Cuisson : 1 h 30 en plusieurs étapes
Ingrédients:

* 8 cailles désossées (à l'exception des jambes et des ailes), réserver les os
* 500 gr de pâte feuilletée
* 1 jaune d'œuf battu avec 2 cuillères à soupe d'eau
* sel, poivre moulu fraîchement
* 6 cuillères à soupe de Cognac
* 75 gr de truffes noires hachées
* 250 gr de foie gras d'oie frais de préférence
* 5 cuillères à soupe de beurre doux
* 3 échalotes hachées
* 1 tasse de vin blanc sec
* 4 tasses de fond de volaille
* 2 cuillères à thé de maïzena dissoutes dans 2 cuillères à soupe de vin blanc
* 8 gros champignons avec de grands chapeaux
* 1 cuillère à thé d'huile d'arachide
Préparation:

* Préchauffer le four à 200 °C. Couvrir la plaque de papier sulfurisé.
* Rouler la pâte sur une planche légèrement fariné jusqu'à 6 mm d'épaisseur et découper en 8 ovales de 10 cm de large et de 12,5 cm de long. Piquer avec les dents d'une fourchette et badigeonner avec le jaune d'œuf + eau.
* Cuire 12 à 15 mn pour dorer légèrement . Sortir du four pour refroidir. Avec un couteau aiguisé découper le côté sans couper le fond et enlever les couches intérieures pour former un ovale creux
* Rincer et sécher les cailles, saupoudrer les cavités de sel, poivre et un peu de Cognac, ainsi que les truffes. Partager le foie gras en 8 portions et placer dans chaque caille. Fermer les cailles en haut avec de la ficelle de cuisine. Mettre les cailles au réfrigérateur jusqu'à la cuisson.
* Faire chauffer une cuillère à soupe de beurre dans une casserole à fond épais. Ajouter les os réservés et faites dorer légèrement. Ajouter les échalotes, baisser le feu, remuer constamment pendant 3 mn. Ajouter 3 cuillères à soupe de Cognac et le fond de volaille et déglacer la casserole. Laisser mijoter 30 à 40 mn pour réduire la sauce. Passer la sauce et mettre la maïzena, mélanger. Remettre dans une casserole propre et remuer jusqu'à épaississement. Ajouter le reste de truffes, sel, poivre.
* Faire sauter les chapeaux des champignons dans 2 cuillères à soupe de beurre. Réserver.
* Environ 20 mn avant de servir, préchauffer le four à 175-180 °C.
* Chauffer le reste de beurre et l'huile dans une poêle à fond épais à feu moyen, faire dorer les cailles de tous les côtés environ 5 mn. Mettre les cailles au four 10 mn.
* Pendant ce temps, déglacer la poêle avec le Cognac restant (environ 2 cuillères à soupe ) et ajouter cela à la sauce.
* Sortir les cailles du four, enlever la ficelle et les garder au chaud.
* Pour servir , réchauffer la sauce.
Placer les ovales sur une plaque et mettre une caille sur chaque, mettre à réchauffer dans le four 5mn. Dresser dans les assiettes et mettre une cuillère de sauce sur chaque caille et dans l'assiette et placer les chapeaux des champignons en haut de chaque caille. Servir de suite.